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Restos mortais de africanos sequestrados e levados por traficantes portugueses, para escravidão, foram enterrados com honras na Ilha de Santa Helena

Restos mortais de africanos sequestrados e levados por traficantes portugueses, para escravidão, foram enterrados com honras na Ilha de Santa Helena

“O facto dos britânicos terem mantido secreto a história de mais de 8 mil africanos que foram enterrados à cerca de 200 anos atrás, numa ilha quase inacessível pelo mundo, como se de  animais se tratassem, pode ser visto como um acto de conivência por parte dos britânicos, pois tal silêncio, pode ser considerado como indicação de falta de vontade e iniciativa própria em informar o mundo sobre a história do final daqueles que como outros também foram seres humanos filhos de África, capturados longe da sua vontade para serem feitos escravos. Apesar de tudo, devemos considerar este acto como sendo o início do reconhecimento pelos britânicos, do seu erro como coniventes desde acto, pelo simples facto de manterem secreto essa importante questão para os africanos e para o mundo” – referiu  José Gomes (Utola).

Entre os anos de 1840 à 1872, cerca de 420 navios usados por portugueses para traficar seres humanos provenientes de África, foram capturados no alto mar do oceano atlântico pela marinha britânica, numa altura em que os britânicos já haviam decretado, o fim do tráfico de seres humanos (referenciado muitas das vezes por “tráfico de escravos”). Os navios capturados, segundo um artigo publicado pelo jornal britânico The Sunday Times, eram levados para a Ilha de Santa Helena (situado a poucos kilometros do continente na costa de Angola), onde depois era decidido o destino a ser dado aos homens, mulheres e crianças que haviam sido postos em liberdade pela marinhas britânica. Segundo relatos do artigo, muitos desses africanos, foram enviados para as Caraíbas, pois segundo o que foi relatado, não falavam nem inglês e nem português, o que tornou difícil identificar a origem dos cativos – diz o jornal.

Em 2008 as ossadas destes africanos, foram acidentalmente encontrados, durante uma escavação que estava a ser feita para a construção de uma estrada que ligaria a capital da Ilha (Jamestown) ao novo aeroporto. Foram encontrados maioriamente, ossadas de jovens do sexo masculino e também mulheres, para servirem de parideiras. Encontraram também ossadas de crianças e alguns objectos de adoração espiritual (crenças religiosas ou espiritual africana).

Portugal, os perpetradores da tragédia que foi o tráfico de seres humanos africanos, mantém-se calado sem nunca ter feito um único pronunciamento oficial sobre a descoberta das ossadas dos africanos que foram por eles sequestrados de África e posto em liberdade pela marinha britânica.

Portugal tem com essa notícia mais uma oportunidade de se pronunciar, por ter sido o principal actor do tráfico de seres humanos africanos no mundo. Um pronunciamento oficial de Portugal seria um acto nobre demonstrado por Portugueses dessa era, que indicaria a sua vontade em mudar a narrativa sobre a sua relação histórica com os africanos – Diz Utola

Os organizadores do funeral, queriam realizar um funeral cristão, essa proposta foi rejeitada por maior parte dos envolvidos na organização. Concordou-se então que aqueles seres humanos não eram cristãos e que não seria apropriado essa hipótese.

O acto solene (funeral) foi realizado em Rupert’s Valley, uma zona perto de Jamestown – capital da ilha de Santa Helena, no dia 20 e 21 de Agosto de 2022 e foi merecedor de todas as honras – refere o jornal.

De recordar, que no Reino Unido, foi criada pela CAARU – Confederação das Associações Angolanas no Reino Unido, uma comissão de estudo composto por angolanos, que tem como missão, averiguar os factos narrados pelo o relatório baseado nos estudos arqueológicos feitos pela Universidade de Bristol.

Por – José Gomes (Utola) – pesquisador de história africana – Poeta – analista político

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